A bolota foi desde sempre um importante alimento na dieta dos povos da Península Ibérica. Porém, a partir dos anos 60 do século passado, com o desenvolvimento económico e introdução de novos alimentos na dieta de portugueses e espanhóis, o consumo de bolota na alimentação humana caiu em desuso, associado a épocas de fomes e escassez.

A manutenção do montado e da floresta em geral passa pela sua valorização económica e social e a exploração de novos usos é uma parte da valorização ambiental também.

As diferentes espécies do género Quercus que povoam a península produzem bolotas, cujo valor alimentar varia com a espécie e as condições edafo-climáticas em que se produzem. É, no entanto, consenso geral, tanto em registo tradicional como em provas científicas, que a espécie cujas bolotas têm maior interesse alimentar é a azinheira. Esta é também uma das espécies com distribuição mais generalizada em Portugal, em particular nos ecossistemas de montado.

O valor do montado foi durante anos reconhecido como pouco mais do que uma área de cortiça, em montados de sobro, ou sistema agro-silvícola, com produção de cereais ou pastagens. Acontecimentos como a peste suína africana levaram a que durante décadas a exploração de porcos alentejanos/ibéricos fosse suspensa.

O novo milénio trouxe o reconhecimento do valor não só ambiental, mas também económico e social do montado. A expansão dos mercados da cortiça, a valorização da carne em extensivo têm adicionado valor ao montado. Mas… e a bolota? Será apenas interessante para alimentação animal?

A bolota, é um alimento extremamente rico em ácidos gordos insaturados e tocoferóis. A maioria das bolotas é amarga, senda as de azinheira as com características mais agradáveis ao paladar humano. Tal deve-se a esta espécie ter menor teor de taninos.

Num estudo recente realizado em Espanha, foram recolhidos testemunhos sobre os usos antigos destes frutos. O consumo tradicional de bolota, muito associado a períodos de escassez, variava entre fresca e seca, para conservação. As bolotas frescas podiam ser consumidas cruas até seis dias após colheita, assadas ou cozidas tais como as castanhas. As bolotas secas eram moídas e usadas em pão ou bolos, trituradas para doces e até podiam ser torradas para fazer um substituto de café, ou substitutos de chocolate

Os benefícios do ácido oleico são bem conhecidos, já os tocoferóis, presentes em grandes quantidades nas bolotas, são importantes antioxidantes, que se acumulam nas membranas celulares, protegendo os músculos e outros tecidos de stress oxidativo. Os valores destes nutrientes são mais interessantes em bolotas de azinheira e também em bolotas de carvalho cerquinho.

Presentemente, até a FAO reconhece o valor das bolotas como oleícolas, dado o seu teor em ácido oleico e começam a aparecer no mercado licores de bolota (de azinheira) e também doçaria. A industrialização também começa a dar os primeiros passos, podendo adaptar-se as linhas de produção de castanha congelada às bolotas.

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