O clima mediterrânico encontra-se na transição entre o temperado e o semi-árido. Esta localização tornou estas regiões ricas em diversidade de fauna e flora, mas também bastante vulneráveis. As alterações climáticas colocam em risco muitas espécies, com um possível avanço de condições cada vez mais próximas de um semi-árido.
Já antes se escreveu por aqui sobre a esteva. Esta espécie tem vindo a merecer a atenção de diversos ramos de investigação dada a sua grande resistência a condições de aridez e a sua adaptação a solos pobres, pedregosos ou degradados. A esteva tem sido assim incluída nos estudos sobre culturas sub-utilizadas ou negligenciadas, já que ao logo de séculos, teve diversos usos, com importância medicinal, e foi uma espécie importante no mediterrâneo, mas hoje não tem importância económica relevante.
A esteva tem sido explorada como fonte de óleos essenciais, resina (nos primeiros três anos), biomassa e cogumelos (dos 19 aos 24 anos, o fim do ciclo de vida), pasto e pólen. Os sistemas de produção baseiam-se na exploração das populações que ocorrem naturalmente, mas cada vez mais se estuda o seu potencial para ser cultivada, com selecção de características e linhas genéticas que possam permitir maior produtividade numa ou noutra possível aplicação.
O melhoramento e selecção de linhas e variedades de esteva tem assim sido dirigido para dois tipos principais de exploração. Uma linha de melhoramento será para desenvolvimento de variedades a ser exploradas em ciclo curto, de um a três anos, com extracção de resina e óleos essenciais para as indústrias cosmética e farmacêutica e aproveitamento dos restos de cultura para biomassa. Este tipo de cultivo requer culturas em linhas e um melhoramento para linhas com maior produção de óleos essenciais, por exemplo. Outro aproveitamento será a exploração em ciclo longo, até cerca de 25 anos, num enquadramento de silvicultura. Aqui os principais produtos serão o pólen, que tem grande importância na manutenção de colmeias no início da Primavera, e os cogumelos selvagens (Boletus edulis), para além do aproveitamento dos restos de cultura para biomassa.
O conhecimento desta espécie e a sua abordagem enquanto cultura têm sido facilitadas por um número de estudos que têm explorado as suas diferentes dimensões. Na área da perfumaria, para além dos óleos essenciais, a resina (ládano) é importante como fragrância e como fixador. O ládano é de facto o melhor substituto natural do espermacete de cachalote, usado durante séculos em perfumaria e para o qual existe apenas um substituto sintético.
Mas os aromas das estevas escondem ainda outras propriedades, como a actividade antimicrobiana em algumas espécies de bactérias onde já existem resistências a antibióticos, bem como leveduras e fungos patogénicos. A esteva é também fitotóxica, podendo inibir o crescimento de outras plantas, o que poderá ter interesse no combate a infestantes de culturas. Ao mesmo tempo, algumas das suas aplicações tradicionais em mezinhas são hoje justificadas pelo conhecimento científico da actividade anti-inflamatória de extractos desta planta.
Outro uso com interesse está na sua capacidade de se instalar em solos degradados, podendo ter potencial para remediação de solos contaminados com metais. De facto, esta espécie tem vindo a colonizar com facilidade regiões de minas abandonadas.
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