O lobo é um dos principais predadores em todo o mundo. Mas desde o século XIX que as populações têm vindo a reduzir-se. Se é desde sempre um animal temido, símbolo dos perigos da floresta e do desconhecido, tem vindo a ter mais razões para temer os seres humanos do que o contrário.

Na Península Ibérica também o lobo ibérico foi desaparecendo, devido a perda de habitat e perseguição humana, muito em particular pela sua fama de atacar rebanhos. Sendo uma espécie protegida, a sua sobrevivência também depende daquilo que se sabe sobre o seu comportamento e um estudo publicado este ano, desenvolvido por investigadores das universidades de Aveiro e de Lisboa, foi procurar saber o que come o lobo ibérico e os resultados têm importantes lições sobre as interacções entre as diversas espécies presentes no seu habitat.

O lobo é uma espécie generalista que se alimenta do que tem presente no seu habitat. Assim, em diferentes regiões da Europa a sua alimentação difere consoante a abundância e condição física das presas e as medidas de protecção de espécies domésticas. Estudos realizados no norte e centro da Europa apontam para uma preferência por animais silvestres como veados e javalis. Já os estudos realizados no sul da Europa, em regiões com maior presença humana, mostraram que o lobo se alimenta de gado e até de lixo.

Também em Portugal os estudos têm apontado ao longo do tempo para a preferência por animais domésticos. No entanto, mais recentemente tem vindo a ocorrer um aumento das populações naturais de ungulados silvestres em algumas regiões do nosso país, o que levou os investigadores a colocar a hipótese de uma mudança na dieta do lobo ibérico. O estudo foi realizado no Parque Natural de Montesinho permitiu observar a evolução desde o último estudo realizado nessa área, em 1978.

Os resultados obtidos das análises feitas entre 2017 e 2019 mostraram que os ungulados silvestres representam 86% da dieta do lobo ibérico no Parque de Montesinho, num contraste completo com as observações de 1978, onde este grupo apenas representava 8.2%. A razão desta mudança está claramente relacionada com aumento da população de corço e javali e com o repovoamento de veados a partir do outro lado da fronteira. Outros estudos noutras regiões do norte de Portugal têm resultados diferentes, com maior consumo de gado pelas populações de lobos, dada a menor densidade de ungulados silvestres nessas regiões. Já em Espanha, em regiões com menor influência humana, a dieta dos lobos é na sua maioria composta por animais silvestres.

As conclusões do artigo defendem que o aumento de presas silvestres é a melhor forma de prevenir conflitos entre humanos e lobos, evitando ataques a rebanhos. Por outro lado, já vimos noutros artigos aqui divulgados que espécies como o veado ajudam na manutenção de áreas florestais, renovação de populações de sobreiros e azinheiras e controlo de matos.

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