O carbono orgânico presente no solo é uma das principais formas de retenção de dióxido de carbono, tendo um importante papel na redução deste gás na atmosfera e do seu papel no efeito de estufa. Para além da importância ambiental, o carbono orgânico aumenta a capacidade de retenção de água do solo, intervém nos ciclos dos nutrientes, com um impacto positivo na fertilidade do solo em geral.

Num estudo realizado em Itália, que reuniu investigadores de 14 centros, foram criados modelos de simulação baseados em dados de ensaios de longo-prazo. Estes modelos pretendem estimar os efeitos das práticas de preparação do solo na retenção e dinâmica do carbono orgânico do solo. Estes modelos são tanto mais pertinentes quanto analisados em cenários onde o papel do solo no sequestro de carbono atmosférico se torna uma ferramenta de mitigação de alterações climáticas.

Para poder estimar cenários futuros, os investigadores partiram de ensaios no campo em rotações de trigo duro – milho em sequeiro, para os quais existem dados desde 1970, para mobilização convencional, mobilização reduzida e não mobilização. Assim, é possível ajustar um modelo estatístico capaz de representar a dinâmica do carbono orgânico no solo no período 1970-2000 e, a partir daí, estimar a evolução para o período 2021-2050, quer num cenário de clima presente como para um cenário de alterações no clima.

Os ensaios decorreram em duas regiões, Ancona, na costa Leste e Pisa, na costa Oeste de Itália, à mesma latitude. Ambas as localizações têm clima do tipo mediterrânico e pertencem à rede de observatórios de longo-prazo de sistemas de cultura. Na primeira localização foram realizados ensaios com mobilização convencional e não-mobilização e na segunda, compararam mobilização convencional com mobilização reduzida, onde não se realizou mobilização na cultura de trigo e na de milho, se realizou uma gradagem superficial a uma profundidade de 10 a 15cm.

Os cenários de clima usados nos modelos estatísticos foram, para o caso de clima igual ao do presente, baseados nos valores médios mensais de temperaturas e precipitação entre 1971 e 2000. Para o cenário de alteração, os modelos foram estimados para subidas da temperatura média anual entre 1,8oC e 2,1oC. Já os dados de precipitação foram mais complexos, incluindo variações sazonais, com reduções até 56% na Primavera e aumentos até 41% no Outono noutros modelos.

Uma das principais conclusões do estudo aponta, para o facto de apesar de os sistemas de mobilização de conservação sofrerem um impacto maior com as alterações climáticas, ainda assim continuam a ser os sistemas de cultura com maior capacidade de reter o carbono orgânico no solo. Sendo que, num dos ensaios, foi possível estimar um aumento anual da retenção de carbono de 0,4% em sistema de não-mobilização.

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